As lavouras de soja plantadas em Mato Grosso devem produzir quase 35,5 milhões de toneladas do grão nesta safra. Cerca de 66,5% já foram vendidos antecipadamente. A maior parte destas negociações foi feita ainda no primeiro semestre, quando o valores pagos pela oleaginosa com entrega prevista para março do ano que vem giravam entre R$ 70 e R$ 90 a saca. Valor até 60% abaixo do preço médio praticado para os contratos com o mesmo vencimento, fechados durante a primeira quinzena de dezembro. Diferença que preocupa quem revendeu insumos para receber o pagamento em grãos.
É o caso do empresário Salazar Marquetti, que possui 11 lojas em regiões agrícolas de Mato Grosso e Rondônia. “A preocupação principal vem dessa diferença de mercado entre quando foram efetuados os negócios para o que está acontecendo É uma diferença muito grande, e a revenda sempre trabalha muito ajustada. Nós mesmos já estamos com praticamente 100% do que ‘foi feito no campo’, comercializado junto com as tradings. Hoje não existe nenhum cliente que chegou para nós e disse ‘olha, vou ter problema, não vou poder entregar, não vou cumprir’. Então, com a soja a gente acredita que não vai ter problema… mas pode ocorrer, já que no meio da história sempre tem alguns que querem se aproveitar da situação”, comenta.
O Conselho Estadual das Associações de Revendas de Produtos Agropecuários, Cearpa-MT, confirma a apreensão e pede bom senso àqueles agricultores que – eventualmente – pensem em judicializar os contratos firmados com antecedência. “Eu acho que o mercado tem que estar muito maduro, tanto da parte das tradings, quanto da parte da distribuição e – principalmente – do produtor rural, que a princípio poderia se beneficiar de uma quebra de contratos e se beneficiar de preços maiores. Mas a consequência disso é muito grave né. O sistema de distribuição não suportaria um ‘washout’ deste nível né. A gente fixou soja com as tradings, entregamos e estamos entregando os insumos e precisamos receber a soja na sua totalidade. O contrato é para ser cumprido e a gente continuar operando em uma situação normal. O produtor tem que ter essa consciência, honrar os seus compromissos. Eu acredito que é isso que vai acontecer apesar desse grande diferencial de preços”, analisa Antônio Botelho, que é empresário do setor e membro do conselho diretor do Cearpa-MT. A preocupação com o risco de rompimento dos contratos não é uma realidade apenas em Mato Grosso. Representante de uma revenda em Pato Branco, no oeste do Paraná, o agrônomo Luiz Giovani Piovezana afirma que, por lá, o cenário é semelhante. “A respeito dos contratos de soja, para a nossa região aqui é um pouco preocupante devido ao preço que fugiu um pouco do patamar de onde ele vinha. Trabalhou na casa dos R$ 75, R$ 80/saca e foi onde o agricultor fez contrato desta próxima safra. Então, nos preocupa porque já há rumores de que alguns agricultores falam de não entregar estes contratos lá na frente, devido à diferença do preço, que compensa pagar multas. A gente orienta para que ele entregue este contrato, tanto porque as cerealistas e as revendas que tem contratos com as tradings, elas também têm que entregar (os grãos). Então, seria um problema muito sério se não entregasse”, conclui.